SOB O SIGNO DA INTUIÇÃO - Silvia Graubart

Jung compara os pressentimentos a uma bússola interior – 
uma função psíquica que utiliza os cinco sentidos para produzir
 novas conclusões que não dependem da realidade concreta

Às vezes nos perguntamos se vale a pena dar ouvidos à voz interior que, como um alarme, pode sugerir algo inusitado ou mudanças de rumo em nossas vidas. Ou podemos acreditar que o apelo – vindo sabe-se lá de onde – não passa de cisma. O fato é que o modo como reagimos a esses “avisos” pode fazer toda a diferença em nosso cotidiano. E não são poucos os relatos a respeito.

Você provavelmente deve se lembrar dos comentários, logo após o terrível acidente que matou Airton Senna (1960-1994), em 1o de maio de 1994, em Ímola, na Itália. Quem compartilhava sua intimidade chegou a dizer que na noite anterior à fatídica corrida o piloto estava inquieto, arredio, como que prevendo algo que não soubesse explicar. O mesmo insight aconteceu com um dos integrantes da banda Mamonas Assassinas, o vocalista Dinho, que num vídeo amador deixou gravado seu mau presságio em relação àquela viagem, 2 de março de 1996, sem entretanto, dar a devida importância à sua percepção. As consequências dessas atitudes todos nós conhecemos.

Também já passei por várias experiências semelhantes, e a mais marcante aconteceu anos atrás, numa viagem. Eu e uma amiga havíamos planejado férias de um mês, mas duas semanas depois de nossa partida tive uma noite péssima: sonhos terríveis me acordavam praticamente de hora em hora, como que impondo a decisão de antecipar minha volta para dali a dois dias. Foi o tempo necessário para despedir-me de minha irmã, que morreu exatamente na manhã seguinte ao meu desembarque em São Paulo.

Tanto o senso comum quanto pesquisadores poderiam atribuir à minha percepção o rótulo de premonição, bruxaria. Mas é certo que algum atributo do nosso aparelho psíquico tem essa fantástica habilidade de enviar mensagens, que cada pessoa interpreta à sua maneira. É assim que a intuição age: segundos preciosos carregados de significado, e isso tanto para a vida afetiva quanto nas atividades profissionais. Todos nós temos a capacidade de registrar e compreender ou excluir essa linguagem de nossa vida. Chamada popularmente de sexto sentido, ela não é um predicado restrito às mulheres, embora muitos afirmem que nós somos mais intuitivas que os homens. Entretanto, há quem tenha maior ou menor facilidade para lidar com essa habilidade e desenvolvê-la que aparece nas mais variadas manifestações do nosso psiquismo: nos sonhos, nas sensações corporais, nos insights e nos atos criativos. Dizem que os gênios da música Ludwig van Beethoven (1770-1827) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) atribuíram à intuição suas maiores realizações.

AIRTON SENNA:
Inexplicável inquietação na noite anterior ao acidente que provocou sua morte, em 1994 A intuição capta fragmentos das experiências de forma simbólica, imaginativa, de maneira que esses pequenos estilhaços possam ser organizados para compor uma espécie de vitral ou caleidoscópio, cuja combinação faz surgir um todo inovador. Mas para que essa nova informação aconteça deve-se abrir mão do raciocínio e da lógica, pois apesar de ela não se opor à razão, situa-se fora dos seus domínios. Enquanto uma procura organizar os fragmentos de forma coerente, a outra busca uma combinação harmoniosa, obtida pela via da imaginação, do relaxamento e da quietude.

O psiquiatra Carl Gustav Jung (1875-1961) criador da psicologia analítica, chamou a prontidão para compor esse vitral, tirando o máximo proveito do jogo que se forma entre luzes e sombras, de intuição, no qual flashes criativos desvendam possibilidades. A intuição é nossa habilidade de perceber o que pode vir a acontecer; pressentir o que ainda não está visível e reconhecer potencialidades ainda não realizadas. Essa característica é muito comum em empresários audaciosos, que têm a ousadia de projetar e comercializar projetos inovadores; em jornalistas e editores que “farejam” no mercado qual título será bem aceito no ano que vem; nos corretores da bolsa de valores, cuja destreza em prever a alta de determinado papel no mercado fi nanceiro pode tornar seus clientes milionários; nos marchands, cuja capacidade de avaliar o potencial criativo de um pintor ou escultor surge antes mesmo que eles se deem conta da real qualidade de suas obras; em videntes,cartomantes, tarólogos e outros profissionais que trabalham com terapias alternativas, cuja extrema sensibilidade à atmosfera do lugar e às características das pessoas que os procuram, são capazes de revelar inúmeras coisas a seu respeito.

Fruto de seu próprio processo individual e de um período que Jung chamou de “doença curativa”, descrito em sua autobiografia Memórias, sonhos, reflexões (1961) o capitulo “Confronto com o inconsciente”, no volume VI de suas obras completas no qual expõe a teoria dos tipos psicológicos, ajuda-nos a compreender o que, na época, o autor sistematizou sobre o psiquismo. Aliás, nunca mais se viu uma obra sua com tal característica, tão cientificista. Publicado em 1921, o texto é o resultado de quase 20 anos de trabalho na prática clínica e a primeira produção intelectual depois do seu rompimento com Freud. Nele, o psiquiatra suíço constata que além das muitas diferenças individuais na psicologia das pessoas, existem também diferentes maneiras de nos relacionarmos com os fatos cotidianos.

No lugar de dividi-las em categorias, Jung tentou diferenciar os indivíduos por meio de suas singularidades, propondo duas atitudes e quatro movimentos psíquicos como os modos pelos quais a alma registra e reage às experiências da vida. Jung percebeu que o destino de uns é fortemente determinado pelos objetos de seu interesse, enquanto o de outros é regido pelo seu mundo interior, pela subjetividade. Isso faz com que as pessoas se inclinem naturalmente a lidar com a realidade sob a influência desses fatores. Ou seja, de um modo bem genérico, há quem tenha mais interesse pelo mundo dos objetos, dando a eles um valor preponderante que os atrai como um ímã (os extrovertidos) e aqueles cujo movimento psíquico não vai para o objeto, mas se volta para o sujeito e para seus próprios processos psicológicos (os introvertidos).

Ao lado das duas atitudes predominantes (a extrovertida e a introvertida), Jung também constatou a preponderância e quatro movimentos psíquicos básicos: pensamento, sentimento, sensação e intuição, funções da consciência que se inter-relacionam com certo grau de mobilidade e fluidez, permitindo à pessoa experimentar todas as funções sem fixar-se naquela com a qual tenha mais familiaridade. Essa relativização das funções significa que não há um tipo puro, pois todas as atividades psíquicas são importantes para a vida saudável do indivíduo. Para tirar o máximo proveito da função intuitiva, ela precisa estar conectada com as outras funções, porque o pensamento é indispensável para organizá-la e só por meio da sensação somos capazes de realizá-la.

Jung comparou a intuição a uma bússola interior – uma função psíquica na qual a percepção dos fatos se dá por meio do inconsciente, utilizando os cinco sentidos (visão, paladar, audição, olfato e tato) para chegar a uma nova conclusão, que não depende da realidade concreta. Para ele, a intuição é uma espécie de apreensão instintiva e seu conhecimento é dotado de certeza e convicção intrínsecas. A atividade imaginativa da intuição descortina novos horizontes e perspectivas indispensáveis ao nosso tempo, sendo o desenvolvimento dessa função uma das mais importantes tarefas da psicoterapia contemporânea.

OLHAR DE LONGE
Do verbo intuire, que significa olhar para dentro, a intuição não é uma sensação dos sentidos(apesar de se utilizar deles), nem um sentimento ou uma conclusão intelectual, ainda que também possa aparecer sob essas formas. Nele, qualquer conteúdo se apresenta como um todo acabado, sem que saibamos explicar ou descobrir como esse conteúdo chegou a existir. Jung menciona que o filósofo Bento de Spinoza (1632-1677) considerou a scientia intuitiva como a forma mais elevada de conhecimento, sendo sua exatidão atribuída a algum conteúdo que repousa no inconsciente.

As pessoas que orientam sua atitude geral pelo princípio da intuição e, portanto, pela percepção por meio do inconsciente, pertencem ao tipo intuitivo. E assim como as demais funções, a intuição pode ser extrovertida ou introvertida, conforme seja a sua utilização: para o conhecimento ou contemplação interior, ou para fora, para as realizações e o desempenho.

HABILIDADE INTUITIVA
é característica tanto de pessoas que trabalham com terapias alternativas e predições, quanto de empresários sagazes e empreendedores criativos Segundo a psicóloga Marie-Louize von Franz (1915-1998), no livro A tipologia de Jung (1967), para a intuição “funcionar”, as coisas precisam ser olhadas de longe, ou de modo vago. Só assim é possível captar esse pressentimento vindo do inconsciente, porque quando o foco está voltado para os fatos da realidade exterior essa qualidade quase mágica não tem espaço para se manifestar.

É por isso que os intuitivos quase sempre são imprecisos e vagos... Pessoas “visionárias”, no bom sentido, cujas habilidades ganham um papel indispensável no mundo competitivo. Tanto que, atualmente, as empresas valorizam um novo perfil de profissional: indivíduos com aptidão para identificar tendências sem precedentes e com boa noção intuitiva para extrair tendências coerentes de dados conflitantes; que tenham capacidade para pensar além dos limites convencionais; dotadas de habilidade para influenciar atitudes e opiniões, além de disponibilidade para abraçar as incertezas.

É o que Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs Myers – criadoras do Myers Briggs Type Indicator (indicador de tipos Myers Briggs)–, com base na tipologia junguiana, propõem como solução para o sucesso empresarial: a busca de profissionais capazes de descobrir novas formas de
fazer as coisas, equilibrando um planejamento calculado com ações intuitivas.

Ao emprestar do matemático Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.), a expressão “Eureca!”, o jornalista Nelson Blecher definiu com precisão o que a intuição significa para o mundo dos negócios. Em um artigo publicado em outubro de 1997, na revista Exame, ele apresenta inúmeros motivos para sua crescente valorização, entre eles a imprevisibilidade dos consumidores, a aceleração das mudanças econômicas e tecnológicas, que tornaram as coisas extremamente complexas, a exigência de soluções adequadas aos novos esquemas de produção e fontes de suprimentos. E se para essa habilidade inata do ser humano só existe um freio – aquele que nós mesmos colocamos –, a atitude fielmente junguiana para deixá-la seguir seu curso ou facilitar sua emersão da profundidade do inconsciente é um mergulho no autoconhecimento: um processo capaz de tirar da escuridão essa habilidade, ainda hoje, frequentemente menosprezada.

TRADUZIR-SE - Ferreira Gullar


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

PARA O ZÉ - Adélia Prado

Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.

DE ONDE VEM A NOSSA DOR? - Martha Medeiros

A dor nas costas vem das costas, a dor de estômago vem do estômago, a dor de cabeça vem da cabeça. E sua dor existencial, vem de onde?

Ela vem da história que você meio que viveu, meio que criou – é sabido que contamos para nós mesmos uma narrativa que nem sempre bate com os fatos. Nossa memória da infância está repleta de fantasias e leituras distorcidas da realidade. Mesmo assim, é a história que decidimos oficializar e passar adiante, e dela resultam muitas de nossas fraturas emocionais.

Nossa dor existencial vem também do quanto levamos a sério o que dizem os outros, o que fazem os outros e o que pensam os outros – uma insanidade, pois quem é que realmente sabe o que pensam os outros? Pensamos no lugar deles e sofremos por esse pensamento imaginado. Nossa dor existencial vem dessa transferência descabida.

Nossa dor existencial, além disso, vem de modelos projetados como ideais, a saber: é melhor ser vegetariano do que comer carne, fazer faculdade de medicina do que hotelaria, namorar do que ficar sozinho, ter filhos do que não ter, e isso tudo vai gerando uma briga interna entre quem você é e entre quem gostariam que você fosse, a ponto de confundi-lo: existe mesmo uma lógica nas escolhas?

Como se não bastasse, nossa dor existencial vem do que não é escolha, mas destino: quem é muito baixinho, ou tem cabelo muito crespo, ou é pobre de amargar, ou tem dificuldade de perder peso vai transformar isso em uma pergunta irrespondível – por que eu? – e a falta de resposta será uma cruz a ser carregada.

Nossa dor existencial vem da quantidade de nãos que recebemos, esquecidos que somos de que o “não” é apenas isso, uma proposta negada, um beijo recusado, um adiamento dos nossos sonhos, uma conscientização das coisas como elas são, sem a obrigatoriedade de virarem traumas ou convites à desistência.

Nossa dor existencial vem do bebê bem tratado que fomos, nada nos faltava, éramos amamentados, tínhamos as fraldas trocadas, ninavam nosso sono, até que um dia crescemos e o mundo nos comunicou: agora se vire, meu bem. Injustiça fazer isso com uma criança – alguém aí por acaso deixou totalmente de ser criança?

Nossa dor existencial vem da incompreensão dos absurdos, da nossa revolta pelos menos favorecidos, da inveja pelos mais favorecidos, da raiva por não atenderem nossos chamados, por cada amanhecer cheio de promessas, pela precariedade das nossas melhores intenções e pela invisibilidade que nos outorgamos: por que nunca ninguém nos enxerga como realmente somos?

Dor de dente vem do dente, dor no joelho vem do joelho, dor nas juntas vem das juntas. Nossa dor existencial vem da existência, que nenhum plano de saúde cobre, de tão difícil que é encontrar seu foco e sua cura.

PLIM PLIM - Fábio Porchat

Eu tenho viajado muito de avião nos últimos anos fazendo shows pelo Brasil. Mas só semana passada percebi que as aeronaves estão que nem camisetas de futebol. Anúncio em todo canto. Onde houver um espacinho livre, merchan! No paninho do encosto pra cabeça, na adesivagem das mesinhas, colado nas janelas...

Até aí, tudo bem. É uma poluição visual, mas é mais um jeito de ganhar dinheiro. Que aliás é uma dúvida que eu tenho: de onde vem tanto prejuízo das companhias aéreas? Todo ano eu leio que elas estão endividadas até a alma e que o semestre fechou no negativo. Só que as passagens estão cada vez mais caras, o número de passageiros aumentou, já não servem mais comida de graça nos voos, o ar condicionado só é ligado quando a porta fecha para economizar gasolina e, agora, uma hora de voo parece uma hora de um intervalo da novela das oito... Eles tão ganhando mais dinheiro e perdendo cada vez mais?

Bom, de qualquer forma, não vou me meter onde não entendo. O preço da gasolina deve estar uma loucura, a taxa do aeroporto deve estar tão inflacionada quanto um imóvel no Rio de Janeiro e a manutenção das naves deve estar saindo pela hora da morte.

Enfim, a mais nova moda agora são as televisõezinhas que passam conteúdo para o viajante. Eba, que legal! Quando você embarca, a primeira coisa que te oferecem é bala e, depois, um fone de ouvido. Maravilha, apesar de a imagem ficar passando a viagem toda, vê quem quer e, afinal de contas, é uma distração. Mais ou menos.

Na TAM, você é obrigado a ouvir, propagado em alto e bom som, o que está passando na TV, inclusive depois que já levantou voo. E metade daquilo que você está vendo é o quê? Anúncio!

Se você quer ler, não consegue, se quer dormir não pode. Eu me sinto o personagem do Laranja Mecânica forçado a ver as imagens. Sempre peço pra diminuírem o som, mas os comissários dizem que não podem fazer nada. Como ler um livro ao som de "pergunta no Posto Ipiranga"?

Ninguém quer assistir às propagandas na TV ou na internet, então por que raios eu ia querer ver no avião? Vê quem quer. Não tem o fone? Isso é mais um desrespeito com o cliente. A empresa quer ganhar mais e não está nem aí para o conforto do passageiro. E agora os comissários de bordo fazem propaganda pelo sistema de som! Anunciam promoções da empresa e parcerias vantajosas pra você que quer aproveitar ainda mais. Quer dizer, você se sente no programa da Sônia Abraão quando aparece o japonês vendendo cogumelo do sol.

Tô vendo a hora em que no meio da viagem uma aeromoça vai passar vendendo jornal, outra entregando folheto de empreendimento imobiliário, enquanto um comissário agita uma bandeira e o piloto aparece no corredor falando: "Desculpe interromper a viagem dos senhores. Eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando, mas estou vendendo gado Nelore".

PIORES INVENÇÕES DA HUMANIDADE - Marcelo Rubens Paiva

SL: ou Second Life, ambiente virtual em 3D que simula a vida real. Jogo criado pelo Linden Lab. Foi sensação do mercado publicitário no final dos anos 2000. Graças ao realismo da animação, os usuários (avatares) podem ver e interagir com o outro (avatar). Uma mentirinha convivendo com outras. Até a maioria sacar que está perdendo coisas mais interessantes da FL (First Life), a vida real, enquanto vivem como avatares idealizados na second. Virtualmente já somos simulacros de nós mesmos, imagens redesenhadas para redes sociais. Não precisamos de outro universo, ou melhor "metaverso", para viver. Diante da decadência, o Lab disponibilizou a versão 2.0 em 2010, que dividiu a vida de mentirinha em ilhas como Welcome Island, para novos jogadores, Freebies, ilhas com itens gratuitos, além de ilhas de nudismo, sexo virtual, compras, praias e discotecas. Um metaverso complexo e esquisitão. Perfeito pra quem tem tempo disponível. E parafusos a menos. Ver bonecos (avatares) pelados em praias de mentirinha? Sinistro...

WWIS: Quando se pensa que já inventaram as maiores idiotices da humanidade, sempre tem uma que supera. É a sigla de What Would I Say (O Que Eu Deveria Dizer), aplicativo que trabalha com o utilitário BOT, de "robot", e se espalha como uma praga. WWIS gera automaticamente comentários no Facebook que parecem escritos por você. Tecnicamente falando, usa o modelo BOT, algoritmos e inteligência artificial, para misturar posts anteriores. Você quer ser uma pessoa atuante nas redes, mas não sabe como nem tem tempo. Quer passar uma imagem divertida, antenada. A de um ativista sedutor. Como um robô com seu teclado no colo, o WWIS seleciona frases bacanas e as espalha, para disseminar não suas ideias, mas as ideias que querem que você as tenha ou que você deveria ter. O que eu posso dizer... Coisa de maluco.

Pipoca: É uma tremenda descoberta. A figura do pipoqueiro, então, proustiana. Problema é cair em mãos erradas, como o plutônio. Em salas de cinema. Em sacos maiores que estômagos. Se acontece comigo, acontece com você: em quase todo filme, um esfomeado na fileira de trás passa os créditos, a introdução do longa, o segundo ato, até o ponto de virada, mastigando milho como um cavalo. O drama se intensifica, a irritação também. Pode apostar, é na cena mais intensa da trama que o quadrúpede chacoalha o saco, como se estivesse na Timbalada, para espalhar o sal depositado. Pensei em várias maneiras protestar. A que mais me seduz: usar um turbante e levar um timbal para entrar no ritmo do chocalho, cantando "fui embora, meu amor chorou, eu vou nos beijos de um beija-flor, no tique-taque do meu coração, yo quero te namorar, amor".

Saco de balas: Tenho certeza de que grandes divas, como Fernanda, Tônia e Bibi, pensaram em largar o ofício quando começou a venda de pacotes de balas nos teatros. Cujo glutão, provavelmente parente do animal que passa um filme mastigando milho, não percebe que aquele barulhinho, desembrulhar uma jujuba, um delicado ou uma balinha de hortelã, desconcentra até a camareira que tenta dormir na coxia durante a peripécia que já ouviu centenas de vezes, que antecede a revelação da protagonista, como as representadas por Fernanda, Tônia e Bibi.

Buzina: Primeiro inventaram o automóvel. Depois perceberam que transeuntes e animais não saíam da frente, estupefatos ao ver que aquele veículo com rodas se movia sem tração de quatro patas. Inventaram a buzina com os princípios de uma corneta, que substituiu os gritos de "sai da frente!". Educou a população que não conhecia a novidade. Sofisticou-se. Passou a ser intermitente e ao alcance dos dedos. O que tornou não mais uma ferramenta para a segurança do trânsito, mas objeto de vingança, assédio, grosseria, descontrole emocional, alívio de estresse e forma de pressão, como se o alto índice de decibéis produzido fosse capaz de fazer outros automóveis saírem da frente, criarem espaço livre para o carro da besta que buzina prosseguir.

Cigarro: Dizem que Colombo jogou fora o tabaco com que foi presenteado. Sensato. Mas um marinheiro levou para a Espanha, se gabou pelas ruas mascando aquela planta considerada do "diablo". Em 1561, o embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, percebeu que o tabaco aliviava sua enxaqueca. Tinha que ser um francês... Descobriu de onde vem a palavra nicotina? Que depois foi enrolado por uma máquina, encurtou a vida dos nossos avós e se transformou numa epidemia aparentemente inocente e glamorosa. Se você, como eu, foi viciado, sofreu o diabo para largar, dá umas pigarreadas até hoje e escuta de todo médico que consulta, "ex-fumante?", como uma repreensão, como se seus dias estivessem contados, sabe do que falo. Invençãozinha do capeta.

Alarme de carro: Nem preciso me alongar. Talvez seja uma unanimidade: é das mais estúpidas invenções. Porque não reduziu o índice de roubos de carro e só aumentou as noites mal dormidas de milhões de inocentes. Uma pergunta. Depois de escutar repetidamente por minutos, "fué, fué, fué, atenção, este veículo está sendo roubado e é monitorado pela empresa tal, por favor ligue para zero oitocentos xis xis xis, obrigado", alguém ligou?

Atendimento automático pelo telefone: É aquela voz humana reproduzida por um computador do serviço de atendimento ao consumidor. Que não pede para você digitar um para "sim", dois para "não", três para "mais opções" ou nove para "voltar ao menu anterior", mas para você falar o que pretende. O que deixa a família desavisada em pânico, com suspeitas de que chegou o momento da internação: a fase sem volta em que você começou a falar sozinho. Não basta falar claramente e pausadamente. É preciso adivinhar o que deve ser dito para ser atendido, que palavra-chave os programadores escolheram. Por exemplo. Perdi uma conta telefônica antiga e precisava da segunda via. Ao dizer em voz alta "segunda via", a voz computada disse, numa simpatia contagiante: "Entendi, você disse segunda via. Mas você já pagou a sua conta, não necessita da segunda via". Então, tentei: "Perdi a conta e preciso da segunda via". Escutei: "Entendi, você disse segunda via. Mas você já pagou a sua conta, não necessita da segunda via". Levei um tempo me divertindo. Porque parti para a ignorância e passei a falar palavras estranhas, como "rocambole". E porque reconheci a voz do meu amigo e colega de faculdade, um grande piadista por sinal, Paulo Sharlack. Que sucede a voz do meu amigo e colega do colegial, Maurício Pereira, que dá as boas-vindas do SAC. Não resolvi o problema naquela tarde. Mas matei as saudades de ambos.

O LADO ESCURO DA FORÇA - Nelson Motta

Qualquer assunto ou pessoa que vá ao ar tem logo dois lados 
trocando insultos e acusações, dividindo o que poderia ser multiplicado

O avô do Jabor era uma figuraça. Quando o neto lhe contava entusiasmado uma boa novidade, o velho logo o advertia: “Cuidado, Arnaldinho, nada é só bom.” Sim, tudo também tem um lado ruim, o das coisas boas que vão ter fim. A máxima do velho antecipava o irônico paradoxo da era digital: nunca na história deste planeta houve algo tão bom para aproximar as pessoas — e nada que as dividisse tanto — como a internet, onde todos se encontram e cada um pode mostrar, escondido pelo anonimato, o seu pior.

Chico Buarque, que um dia já foi chamado de maior unanimidade do Brasil, disse que sempre acreditou que era amado, até descobrir, na internet, que era odiado. Qualquer assunto ou pessoa que vá ao ar tem logo dois lados trocando insultos e acusações, dividindo o que poderia ser multiplicado. No pesadelo futurista, a diversidade e a diferença são soterradas pela ignorância e o ódio irracional, que impedem qualquer debate produtivo, assim como os black blocks impedem qualquer manifestação pacifica.

Na última semana li vários editoriais de jornais e artigos de diversas tendências sobre o mesmo tema: a internet como geradora e ampliadora de um virulento e empobrecedor Fla x Flu, ou pior, de um PT x PSDB em que todos saem perdedores. E como disse o Pedro Dória: só vai piorar. Todas as paixões e excessos que são permitidos, e até divertidos e catárticos, nas discussões de futebol só produzem discórdia, mentiras e mais intolerância no debate politico e cultural. Simpatizantes de qualquer causa ou ideologia só leem os que dizem o que eles querem ouvir, nada aprendem de novo, chovem no molhado.

Mas até esse lado ruim também tem um lado bom, de revelar as verdades secretas, expondo os piores sentimentos de homens e mulheres, suas invejas e ressentimentos, sua malignidade, que nenhum regime político pode resolver. Sem o crescimento da consciência individual, como melhorar coletivamente?

Como Freud explicaria no seu Facebook, os comentários odiosos revelam mais sobre quem comenta do que sobre o odiado. Ou, como já dizia a minha avó, a boca fala (e agora digita) as abundâncias do coração.

O NOVO GERENTE DO HOTEL – Edmir Silveira

Depois de anos de sacrifícios, finalmente a grande chance estava bem a sua frente. Falava 5 idiomas, havia estagiado e trabalhado em praticamente todas as funções nas melhores redes de hotéis do país. Estava pronto. Havia quatro anos que, mesmo sendo o sub, era ele quem realmente conduzia aquele hotel. Conhecia cada apto, cada canto, cada funcionário. E todos gostavam dele. Tinha foco e ambição, mas era profundamente humano. Um bom colega e amigo. Todos achavam que seria um ótimo gerente para todos. Os funcionários estavam satisfeitos com a novidade. Confiavam nele.

Durante dias, toda vez que cruzava com algum funcionário mais expansivo, a pergunta era sempre a mesma:
  • E aí patrão...já virou presidente?
  • Não...vamos aguardar...
  • Tô esperando pra comemorar.
  • Obrigado... dizia com a ansiedade redobrada.
E realmente, estava demorando mais do que ele havia calculado. Já havia sido convidado, aceitara, haviam fechado as condições de remuneração e a única coisa que faltava era o Sr. Amaury se aposentar para que tudo se realizasse.

Nesse dia, a ansiedade ficou quase insuportável quando viu, ao chegar ao hotel, o Sr. Amaury se despedindo dos funcionários.
  • É hoje! Pensou.
Ao se aproximar dele o Sr. Amary, sempre tão simpático e um dos grandes responsáveis pela indicação dele para o cargo, limitou-se a dar-lhe um aperto de mão muito furreca e sequer olhou-lhe nos olhos. Achou estranho.

Foi direto para sua sala pensando que alguma coisa estava estranha. A manhã acabou, chegou a hora do almoço e ele não fora chamado por ninguém. Nem as reclamações diárias aconteciam. Porque não o chamavam logo para que ele pudesse assumir. Ligou para a mulher para aliviar um pouco a tensão. Quando ela atendeu, ele também a achou estranha.
  • Alô, oi amor?
  • Oi...já leu o jornal né?
  • Que jornal...li o quê?
  • Calma amor, não é tão ruim assim...mantém a calma pra não perder a cabeça.
  • Fala logo mulher...não li o quê?
  • Sabe aquele político condenado pelo mensalão...que vai cumprir pena em regime semiaberto mas é obrigado a trabalhar para poder sair?
  • Sim...o que eu tenho a ver com isso?
  • Pois é, ele vai pagar a pena sendo o novo gerente do SEU hotel...e ganhando o dobro do que te ofereceram.
Ele desligou o telefone.

*Qualquer semelhança é de propósito.

CULT MUSIC - FLUMINENSE FM GRAV. ORIGINAL - Nascente - Conto de Fadas - 1984


Fotos da rádio nos anos 80
(expandir player p/ imagens)


Nascente:
Edmir Silveira - Guillermo Diaz (Mito) - Pedro Noleto - 
Bruno Wanderley - Guilherme Vianna - 
Vânia Wanderley


TEMPOS DE RADICAIS - Pedro Dória

O diálogo político se tornou impossível.
Ninguém mais busca o meio termo. 
E parte da culpa é da internet.

O incômodo é visível. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, o veterano jornalista Luiz Caversan anunciou que pretendia tirar férias de Facebook. O radicalismo das pessoas na rede está intolerável. Em um artigo recente, Frei Betto foi outro a se queixar dos radicais à esquerda e à direita. Cá no GLOBO, ontem, Ricardo Noblat desdenhou do país onde, on-line, “se torce apenas pelo cordão vermelho ou pelo cordão azul”. Míriam Leitão foi uma das primeiras, uns domingos atrás.

Os radicais, em sua opinião, pioram a qualidade do debate. A polarização política é um fenômeno muito mais nocivo do que parece. Não é um fenômeno apenas brasileiro. E, não à toa, coincide com a popularização da internet. A tendência, aliás, é de que piore.

Em Israel, a esquerda foi sufocada e o governo de direita se radicalizou como nunca na história do país. Na Espanha, da virada do século para cá, o espaço de diálogo entre eleitores do socialista PSOE e do PP praticamente se extinguiu. Idem nos EUA, onde republicanos e democratas não se entendem desde o dolorido embate eleitoral que culminou com a questionável eleição de George W. Bush, em 2000. Este período, entre finais dos anos 1990 e o início da década seguinte é marcado pelo surgimento dos blogs e, com eles, as caixas de comentários.

A partir daí, o crescimento das redes sociais. Não há coincidência.

Polarização não ocorre apenas quando o centro desaparece. A coisa é mais complexa. É natural que todos tenhamos paixões por certos temas. Pode ser o casamento gay para um, educação para outro, política econômica na cabeça do terceiro. Duas ou três questões costumam nos ser caras. Para as outras, na maioria das vezes somos ambivalentes, no máximo simpáticos a uma opção.

Quando o ambiente se polariza, porém, as pessoas se alinham a um ou outro grupo ideológico. Sentem-se na obrigação de defender até aquilo que não lhes é caro. O resultado é que as possibilidades de diálogo desaparecem. Afinal, quando tudo é muito importante, ninguém cede. Acordos tornam-se inviáveis.

Jogue “polarização política” no Google, porém, e poucos artigos científicos aparecerão. O tema mais definidor da política brasileira no momento é pouco estudado. Talvez porque, polarizadas, as pessoas que se interessam por política andam mais preocupadas em derrotar o outro lado do que dar um passo atrás e perceber que há algo de errado.
Nos EUA, onde o número de cientistas é inacreditável e tudo se estuda, já há pistas fartas. A primeira é que, para a maioria das pessoas, nada mudou. A população continua onde sempre esteve, não se radicalizou. Quem se radicalizou foi o pequeno grupo de eleitores que mais acompanha política. Como é para este grupo que políticos costuram seus discursos, também eles tornam-se mais radicais. Um estudo do professor Markus Prior, da Universidade de Princeton, avaliou se houve mudança na imprensa nas últimas décadas.

Não a descobriu na imprensa tradicional: a cobertura dos fatos, nos EUA, se dá por um ponto de vista de centro. Nas páginas editoriais há uma tendência ligeira à esquerda, mas pouca. Não é assim, lá, para a imprensa que surgiu mais recentemente: canais a cabo de notícias, por exemplo, além de sites e blogs. Aí é tudo extremo, à direita ou à esquerda.

A internet cria o que o ativista Eli Pariser, autor do livro The Filter Bubble, chama de bolha. Lá, as pessoas procuram apenas aqueles sites onde lerão o que reitera suas crenças. Quando comentam em comunidades nas quais todos concordam, só há uma maneira de se destacar. Ou seja, sendo mais puro ideologicamente.

Na opinião de Pariser, aquela que já é uma tendência humana é amplificada pela maneira como a internet contemporânea funciona. Facebook e Google aprendem com aquilo que curtimos, clicamos, lemos, comentamos. Como querem nos ajudar a encontrar o que nos interessa, mostram mais do mesmo. E mais do mesmo é a reiteração da bolha. Lemos tanta gente com quem concordamos que o diálogo com os outros vai ficando mais difícil.

É uma febre. Depende de cada um escolher alimentá-la ou buscar o diálogo com quem discorda.

A VERDADEIRA VIDA - Arnaldo Jabor

A primeira vez que eu vi Rimbaud, senti que havia uma outra vida para além das paredes cinzentas de meu quarto.

Eu com 17 anos de idade, sem amor nem sexo, não li Rimbaud apenas; eu o vi, diante de mim, “como um gracioso filho de Pan — em torno a sua fronte coroada de flores, seus olhos, duas órbitas preciosas, giravam. Seu peito parecia uma cítara e acordes ressoavam em seus braços louros e seu coração batia em seu ventre onde dormia um sexo duplo”. Nesse dia, vi que ele morava em outra vida, “la vraie vie, (a verdadeira vida), como ele a chamava.

Não havia internet naquele tempo e a literatura era tudo; a poesia era a promessa de outra realidade, impalpável. Li depois, em Artaud, uma profunda definição de arte: “A arte não é a imitação da vida; a vida é que é a imitação de alguma coisa transcendental com que a arte nos põe em contato”. Se é que arte tem definição, entendi que aquele era o campo de Rimbaud, quando li seus poemas com o coração disparado. “Eu a reencontrei. O quê? A eternidade. É o mar alado partindo com o sol”. Minha vida mudou. Rimbaud abria a consciência como uma droga. Anos mais tarde tomei LSD e vi que a experiência de Rimbaud era lisérgica. Jim Morrison, Kurt Cobain eram Rimbaud.

Eu vivia em vertigem. Não sabia o que queria, mas não queria a vida de meus pais, escurecida por uma infelicidade que não percebiam. Minhas conversas com meu amigo “Broca” beiravam a loucura. Delirávamos à beira mar, nos paredões da Urca, nas noites daquele tempo. Onde andará Broca, o gênio que gritava para as pedras, onde fervilhavam caranguejos e guaiamuns:“Oisive jeunesse à tout asservie, par delicatesse j’ai perdu ma vie!” E eu contracantava: “Temos de ser absolutamente modernos!!” E os guaiamuns agitavam as antenas, espantados.

“Temos de conseguir o desregramento de todos os sentidos”, nos ensinava Rimbaud, com sua cara de linda bicha louca, no quadro de Fantin-Latour. Partimos então para os puteiros — nossa ideia de desregrar sentidos. Não havia drogas ainda, nem uma reles maconha ao alcance de burguesinhos como nós. Enchíamos a cara de Cuba Libre, (Coca-Cola com rum) e íamos para os bordéis, que pareciam salas de visitas de classe média, com “meninas” sentadas em volta, discretas, num silencio de velório, e indo conosco para a cama emburradas como para um sacrifício — homenagem à virtude perdida. As putas tinham uma aura de transgressão, de loucura de que nos orgulhávamos, os dois corajosos lutadores contra a caretice. Naquele tempo a verdade era inatingível.

Hoje, a “verdade” se proclama visível. O Google tem todos os sentimentos catalogados, mas falta-nos sentir o gosto de alguma coisa vaga que nunca se atinge. Qual seria a emoção de um “gamer” ao ler:“Enquanto os fundos públicos são desperdiçados em caridade, um sino de fogo róseo soa entre as nuvens”. O jovem teria um tédio infinito. Ninguém quer atingir mais nada. Está tudo aí, classificado.
A realidade era nosso delírio. Olhávamos com desprezo os comuns ou então elevávamos os mais vulgares vagabundos à condição de seres tocados por uma aura imerecida. Até que um dia o Broca se apaixonou. Se enamorou de uma colegial sóbria e virgem, claro. Todas eram virgens. Começou a rarear seu amor ao “desregramento”; ia de mãos dadas ao cinema e já olhava com uma ponta de desdém a minha “maldição”. Eu o desprezei naquele namoro, muito mais para Lamartine que para nosso deus maldito. Mas aquele amor me tocou. “Minha vida era um festim aberto a todos os corações”, murmurava.

Um dia, chegou a minha vez. Não sei como fui capturado pelas duas Terezinhas. Uma era magrela e feiosa e a outra era gorda. Sei que moravam juntas e tinham amantes, mas não eram prostitutas, não. Preferi a Terezinha gorda, rosto bonito, muito gorda, mas dividida por uma cintura finíssima e formas sólidas. Deitado em seu corpo nu, parecia estar em um colchão macio, farto, onde me aconchegava como num grande berço protetor. Eu sentia que ela estava encantada com aquele garoto extasiado. Ela tinha algo de vaca e de mãe.

Só pensava nela. Saía do colégio de uniforme, corria para seu apartamento conjugado no Lido e me jogava em seus braços, com um fervor que aos poucos foi entediando Terezinha gorda — percebi eu, algumas vezes, durante meus delírios poéticos: “Por vezes vejo no céu praias infinitas cobertas por brancas nações em júbilo”, frases do “além”, segundo ela, que era espírita, médium e também funcionária publica que — dizia triste — tinha de contar com a ajuda de um senhor que era seu chefe de seção. Mesmo assim, eu via em Terezinha uma Vênus primitiva, com ancas fecundas, os seios escapando do sutiã negro, com uma luz de grandeza inatingível e misteriosa. No entanto, ela estava diferente, eu via, e já forjava uma admiração por meu “gênio” traída por um desinteresse crescente.

Até que um dia ela disse que não dava mais para eu vir ali, que seu protetor estava voltando de viagem e que eu tinha de arranjar uma moça da minha idade. Ficou com o rosto impassível mesmo quando comecei a chorar, sentindo-me um poeta abandonado, pois, “quando se tem fome e sede, alguém nos expulsa!”. Foi quando a outra Terezinha feia gritou da janela: “Ih, o Peçanha está chegando” — e saiu correndo porta afora. A gorda amada me empurrou para o hall, coberto de lágrimas, no momento exato em que um sujeito forte e careca cruzou por mim na escada e meteu o pé na porta, dando para ouvir seu berro de “quem é esse merdinha aí?”. Eu descia correndo, mas voltei, ao ouvir uns gritos lá dentro, olhei pelo olho mágico e vi, como numa luneta convexa, o sujeito arrancando a roupa de minha gorda metafísica e cobrindo-a de bofetadas, que ela recebia com as faces coradas de alegria e um fio de sangue escorrendo-lhe da boca, enquanto lambia o peito cabeludo do sujeito, também banhada em lágrimas. Ali, no olho mágico eu vi então a “la vraie vie” (a verdadeira vida) que Rimbaud deve ter visto quando Verlaine tentou matá-lo com dois tiros.
Quando saí, a rua estava diferente.

EMOÇÃO X ADRENALINA - Martha Medeiros

Ainda não estive com o livro nas mãos, mas já ouvi algo a respeito e me parece que deve ser uma leitura não só interessante como necessária. Chama-se O culto da emoção, do filósofo francês Michel Lacroix, em que ele defende que a busca irrefreável por emoções fortes, tendência dos dias de hoje, é, no fundo, um sintoma da nossa insensibilidade. "É de lirismo verdadeiro que precisamos, não de adrenalina", diz o autor. Ou seja, andamos muito trepidantes e frenéticos, mas pouco contemplativos.

Generalizando, dá pra dizer que todos nós estamos meio robotizados e só conseguimos nos emocionar se formos estimulados pela velocidade e pelo risco: só se houver perigo, só se for radical, só se for inédito, só se causar impacto. Não que isso deva ser contra-indicado. Creio que uma dose de enfrentamento com o desconhecido faz bem para qualquer pessoa. Testar os próprios limites pode ser não só prazeroso como educativo, desde que você se responsabilize pelo que faz e não arraste forçosamente aqueles que nada têm a ver com suas ambições aventureiras. Vá você e que Deus lhe acompanhe.

O que não dá é para se viciar em novidades e perder a capacidade de comover-se com o banal, pela simples razão que emoção nenhuma é banal se for autêntica. Só as emoções obrigatórias é que são ordinárias. Nascimentos, casamentos e mortes emocionam apenas os que estão realmente envolvidos, senão é teatro - aquele teatrinho básico que se pratica em sociedade.

Lembro como se fosse ontem, mas aconteceu há exatos vinte anos. Eu estava sozinha - não havia um único rosto conhecido a menos de um oceano de distância - sentada na beira de um lago. Fiquei um tempão olhando pra água, num recanto especialmente bonito. Foi então que me bateu uma felicidade sem razão e sem tamanho. Deve ser o que chamam de plenitude. Não havia acontecido nada, eu apenas havia atingido uma conexão absoluta comigo mesma. Não há como contar isso sem ser piegas. Aliás, não há como contar, ponto. Não foi algo pensado, teorizado, arquitetado: foi apenas um sentimento, essa coisa tão rara.

De lá pra cá, nem hino nacional, nem gol, nem parabéns a você me tocam de fato. Isso são alegrias encomendadas e, mesmo quando bem-vindas, ainda assim são apenas alegrias, que é diferente de comoção. O que me cala profundamente é perceber uma verdade que escapou dos lábios de alguém, um gesto que era pra ser invisível mas eu vi, um olhar que disse tudo, uma demonstração sincera de amizade, um cenário esplendoroso, um silêncio que se basta. E também sensações íntimas e indivisíveis: você conquistou, você conseguiu, você superou. Quem, além de você, vai alcançar a dimensão das suas pequenas vitórias particulares?

A GENTILEZA NOSSA DE CADA DIA - Raquel Carvalho

“Porque você é linda, porque você é meiga
e sobretudo porque você é uma menina com uma flor”
(Vinícius de Morais em “Para uma menina com uma flor”)

Belo Horizonte tornou-se uma cidade turística por muitas coisas. Pelas montanhas ao redor, pelo Circuito Cultural da Praça da Liberdade, pela proximidade com Inhotim, pelos botecos, pelo Mercado Central, pelo pão de queijo e… pelas mulheres bonitas. Muitas. Centenas. Simpáticas, bonitas e boa parte delas… solteiras. Como me disse um paulista recentemente: Belo Horizonte está para os homens assim como a Avenida Paulista está para as mulheres. Ok, entendi.

Há quem diga que, por isso, os esforços masculinos andam tão reduzidos nessas paragens. Fico pensando se essa é mais uma das generalizações burras que mulheres adoramos fazer para sobrevivência da espécie. Ou se realmente é algo localizado geograficamente na capital mineira. Ou se não estamos diante de uma característica hoje em dia presente em determinadas gerações (por exemplo, 25 a 55 anos). Ou, pior, se esse movimento já não superou idade e território, não importando onde você mora ou o ano em que nasceu.
Olhando para o lado, percebo a falta de delicadeza. Maridos não compram nem um cartão na papelaria da esquina no aniversário, natal ou comemoração de 10 anos de união. Noivos passam dias sem um telefonema para dar notícia ou dizer carinhosamente “pensei em você agora”. Namorados não levam nem uma flor roubada do jardim do prédio, depois de anos praticamente morando e dormindo na casa dela. Solteiros não ligam para agradecer o jantar da noite anterior, nem na semana seguinte, apavorados com o risco da mulher começar a ouvir sinos da igreja. A falta de delicadeza chegou a níveis intoleráveis, para meus femininos padrões.

Não venham me dizer que os homens estão apavorados ou são todos uns cafajestes egoístas, nem que as mulheres são umas mercenárias interesseiras. Respostinha fácil demais e, como a maioria dessa categoria, errada em boa parte dos casos. Os exemplos que dei acima, só para constar, são de mulheres que se lixam para grana ou para o valor do presente. Nenhuma delas espera ser sustentada pelo companheiro, nem coberta de joias a cada aniversário. Acham justo dividir a conta, querem caminhar em cima das próprias pernas e são boas em apoiar quem está ao lado. Fazem um jantarzinho gostoso de vez em quando, baixam as músicas preferidas dele para colocar no som do carro e evitam reclamar demais (desafio e tanto). Isso não significa que não esperam, de vez em quando, ter alguém em que se apoiar, nem que dispensam um mínimo de carinho e consideração. Até porque são mulheres carinhosas que sabem direitinho trocar afeto.

Vamos concretizar ideias vagas como “apoio”, “carinho” e “afeto”. Pedir a sogra ou a vizinha para ficar com os filhos e surpreender sua mulher, no aniversário dela ou de casamento de vocês, com uma saída especial que termine de um jeito especial não é tão difícil assim. Mandar um torpedo para sua noiva dizendo que “é por ‘isso’ (adeque o ‘isso’ a ela) que quero passar o resto da vida ao seu lado” é medida de baixo custo e eficiente. Levar uma flor ou um bombom no meio do expediente da sua namorada, uma vez no ano, é demonstração de afeto inesquecível. E ligar para agradecer o jantar, dois dias depois, é o mínimo que a educação admite, mesmo que tenha descoberto da pior forma um baita chulé na noite que passaram juntos.

Você pode até morar numa cidade que tenha dez mulheres para um homem, com metade delas belíssimas, disponíveis para qualquer tipo de mau tratamento. Mas é melhor não matar a galinha dos ovos de ouro. Baixa autoestima tem cura. Um comportamento generalizado de grosseria e/ou descaso masculino pode fazer surgir um movimento de intolerância à falta de gentileza. Tem umas mulheres bem estranhas por aí que, depois de várias tentativas com conversas, incentivos e dicas de mudanças possíveis, estão desistindo de relações que não lhes fazem felizes. Sem estandarlhaço, com um bocado de sofrimento e frustrações, estão colocando pontos finais, recomeçando, se descobrindo, buscando e encontrando novos amores. O requisito fundamental das novas paixões? Delicadeza. Elas querem, acima de tudo, homens generosos no amor cotidiano.

Daqui, fico pensando que um mínimo de cuidado dispensaria um bocado de sofrimento. A vida seria menos turbulenta. Talvez até melhor pra todo mundo.
Então tenho uma novidade para os rapazes: essa pode ser uma boa hora para trocar o dinheiro do cafezinho por uma flor. Iniciativa, queridos. A sensação de que “o serviço está feito e o resultado garantido” é falsa, acreditem. Minha sugestão é: levantem dessas cadeiras, desliguem o computador e marchem em direção ao Don Juan que há dentro de vocês. Para os da capital mineira, toda sexta-feira tem Feira de Flores em frente o Colégio Arnaldo. Abaixo tem uma citação linda disponível. No Google, outras milhares. Satisfação garantida ou sua reclamação nos comentários de volta.

“E, sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, ‘Minha namorada’, a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.”
(Vinícius de Morais em “Para uma menina com uma flor”)

O FIM, O INÍCIO E O MEIO - Nelson Motta

Somos amigos há muitos anos, e um dia ela me disse 
em tom de piada gentil: ‘Quando eu crescer quero ser você.’ 
Nanda querida, a sério, quando envelhecer quero ser você

Como diria Nelson Rodrigues, fiquei besta. O primeiro livro de Fernanda Torres, “Fim”, é o início brilhante de uma carreira de escritora e já a coloca entre os melhores da sua geração literária. Sim, ela mesma, que há tanto tempo brilha nos palcos e nas telas, que corta cana toda semana no Projac para divertir o público de “Tapas e beijos”, a Nanda que alegra os amigos com sua inteligência e seu humor.

Atriz consagrada em 35 anos de carreira, Nanda começou a dar pinta de outros talentos em suas crônicas na “Folha de S.Paulo” e na “Veja Rio”, conquistando leitores, exercitando seus instrumentos de expressão e se fortalecendo para o voo mais alto e arriscado de um romance. E que romance! Tão audacioso que seu tema é a morte de cinco velhos de Copacabana que formavam uma turma na juventude, mas narrada na primeira pessoa por cada personagem, formando um tecido de suas memórias, sentimentos e delírios, em que várias verdades se entrelaçam para contar o mais importante da vida de cada um: seu fim.

O tema seria pesado e indigesto, os velhos chatos, ranzinzas, neuróticos, doentes, devassos, vulgares e banais, mas nas mãos de Nanda se transformam em personagens ricos e fascinantes em sua grandeza e pequenez, que nos fazem rir e chorar com suas memórias de vida e, sim, de morte. Numa sucessão vertiginosa de dramas e comédias sem fronteiras, uma história puxa outra num fluxo narrativo em que os velhos e suas mulheres e amantes se alternam como narradores e personagens, como afetos e desafetos, como jovens e velhos.

Nelson aconselhava os jovens a envelhecerem rapidamente. Mas de onde Nanda tirou tanta sabedoria, experiência e velhice para escrever essas histórias? E com um estilo tão seco e elegante, tão econômico e contundente, de frases curtas e precisas, sem gastar uma palavra em vão, com um timing de comédia e um ritmo que hipnotiza o leitor. É o melhor livro brasileiro que li desde “Pornopopeia”, de Reinaldo Moraes.

Somos amigos há muitos anos, e um dia ela me disse em tom de piada gentil: quando eu crescer quero ser você. Nanda querida, a sério, quando eu envelhecer quero ser você.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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