O QUE ME DISSE A FLOR - Ferreira Gullar

A flor tem a delicadeza encantadora de uma obra de arte. 
Mas que não foi feita por nenhum artista.

Durante um passeio pela avenida Atlântica, sentei-me sob uma das árvores que há ali, próximo aos edifícios, quando, ao meu lado, no banco, caiu uma flor amarela, igual a muitas que estavam ali no chão.

Peguei-a e tive uma surpresa ao olhar para dentro dela, côncava como um cálice. É que o fundo do cálice era de cor lilás intenso e, do centro dele, erguia-se um pistilo que parece um requinte decorativo posto ali para me encantar. Mas, encantar a mim que, por acaso, peguei essa flor? A flor, suas cores, seu pistilo têm a delicadeza encantadora de uma obra de arte. Mas uma obra de arte que não foi feita por nenhum artista, por ninguém.

Observo ainda que o pistilo é constituído de pequenos anéis feitos de uma matéria semelhante a pluma e lindamente completado por quatro fios também lilases. Que capricho, que harmonia em tudo aquilo! A natureza cria beleza para si mesma? A beleza é natural a tudo o que ela cria?

Certamente, você dirá que ela cria também bichos horríveis e repugnantes. É verdade, mas isso torna ainda mais incompreensível o esplendor das coisas belas que ela cria. E, no caso dessa flor, do pistilo dessa flor, fascinou-me o esmero, o capricho, a delicadeza das pequeninas rodelas de pluma amarela, que pareciam ter sido feitas com o deliberado propósito de fascinar. Mas a quem? Mas por quem?

O que eu desejo transmitir a vocês, nesta crônica, é o espanto de que fui tomado, naquela tarde, ao descobrir essa flor. E havia dezenas delas pelo chão, algumas já murchas, outras esmagadas pelos pés dos transeuntes, num desperdício de belezas. Será mesmo um desperdício? Não, ela é assim mesmo em tudo ou quase tudo.

Quando o homem ejacula lança centenas de milhões de espermatozoides, embora apenas um deles tenha a possibilidade de atingir o óvulo e fecundá-lo. Creio que ela pretende, com esse excesso, tornar inevitável a fecundação e o surgimento de outro ser vivo.

Mas meu espanto não para aí. Outro dia, via na televisão um documentário filmado em águas profundas do oceano, aonde a luz do sol não chega. Era um mundo outro, habitado por seres que não sei se devo chamá-los de peixes. Sei que eram estranhíssimos; nadavam, é certo, mas suas nadadeiras eram algo nunca visto, de uma matéria transparente, flexível, que mudava de cor a cada instante.

Tinham cabeça, boca? Não sei. E quase todos traziam consigo antenas em cuja ponta uma pequena lâmpada acendia e apagava. São próprios àquela outra dimensão do planeta, onde se criam outros seres, outras vidas, outra beleza.

Eram peixes? Eram flores? Eram ficção? É que, como no caso da flor amarela que me caiu no colo, eram criações poéticas da natureza. Pois é, ando ultimamente grilado com esses exageros da natureza que não sei explicar. Na verdade, a realidade do mundo excede qualquer lógica. Ou a lógica dele é outra?

Mas não é: já pensou nas descobertas feitas pelos físicos que levaram a descobrir essa maravilha que é o átomo? Fico pensando: descobriram quais partículas constituem o núcleo do átomo e, a partir daí, conseguiram desintegrá-lo. E temos a energia atômica! Não é estranho que seja tudo tão complexo e, ao mesmo tempo, tão bem organizado e que a inteligência humana seja capaz de entender isso?

Gente, quando faço essa pergunta, lembro-me de que o universo é constituído de bilhões e bilhões de galáxias, constituídas, por sua vez, de quatrilhões de sóis. O sistema solar a que pertencemos é quase nada nesse universo infinito. E nosso planeta, que importância tem? Um grãozinho de poeira. E nós, seres humanos, menos que um grãozinho de poeira nessa imensidão. Não obstante, conseguimos pensá-la.

Nelson Mandela é o exemplo incontestável de que não é a raça nem a cor da pele que define as qualidades do ser humano.

Quero deixar consignado a perda, que significou, para a arte brasileira, a morte --faz algumas semanas-- do pernambucano Gilvan Samico, um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros. Inspirado na gravura popular nordestina, Samico, preservando-lhe a poesia original, soube dar-lhe a qualidade de grande arte. Perdemos, com sua morte, um artista e um ser humano exemplares.

TU ÉS EM MIM PROFUNDA PRIMAVERA - Pablo Neruda


O sabor da tua boca e a cor da tua pele,
pele, boca, fruta minha destes dias velozes,
diz-me, sempre estiveram contigo
por anos e viagens e por luas e sóis
e terra e pranto e chuva e alegria,
ou só agora, só agora
brotam das tuas raízes
como a água que à terra seca traz
germinações de mim desconhecidas
ou aos lábios do cântaro esquecido
na água chega o sabor da terra?

Não sei, não mo digas, tu não sabes.
Ninguém sabe estas coisas.
Mas, aproximando os meus sentidos todos
da luz da tua pele, desapareces,
fundes-te como o ácido
aroma dum fruto
e o calor dum caminho,
o cheiro do milho debulhado,
a madressilva da tarde pura,
os nomes da terra poeirenta,
o infinito perfume da pátria:

magnólia e matagal, sangue e farinha,
galope de cavalos,
a lua poeirenta das aldeias,
o pão recém-nascido:

ai, tudo o que há na tua pele volta à minha boca,
volta ao meu coração, volta ao meu corpo,
e volto a ser contigo a terra que tu és:
tu és em mim profunda primavera:
volto a saber em ti como germino.

O MEU PRIMEIRO POEMA - Pablo Neruda

Têm-me perguntado muitas vezes quando escrevi o primeiro poema, quando nasceu a minha poesia. Tentarei recordá-lo. Muito para trás, na minha infância, mal sabendo ainda escrever, senti uma vez uma intensa comoção e rabisquei umas quantas palavras semi-rimadas, mas estranhas para mim, diferentes da linguagem quotidiana.

Passei-as a limpo num papel, dominado por uma ansiedade profunda, um sentimento até então desconhecido, misto de angústia e de tristeza. Era um poema dedicado à minha mãe, ou seja, àquela que conheci como tal, a angélica madrasta cuja sombra suave me protegeu toda a infância. Completamente incapaz de julgar a minha primeira produção, levei-a aos meus pais.

Eles estavam na sala de jantar, afundados numa daquelas conversas em voz baixa que dividem mais que um rio o mundo das crianças e o dos adultos. Estendi-lhes o papel com as linhas, tremente ainda da primeira visita da inspiração.

O meu pai, distraidamente, tomou-o nas mãos, leu-o distraidamente, devolveu-mo distraidamente, dizendo-me:

— Donde o copiaste?

E continuou a falar em voz baixa com a minha mãe dos seus importantes e remotos assuntos. Julgo recordar que nasceu assim o meu primeiro poema e que assim tive a primeira amostra distraída de crítica literária.

Entretanto, progredia no mundo do conhecimento, no desordenado rio dos livros, como um navegante solitário. A minha avidez de leitura não se saciava, nem de dia nem de noite. Na costa, no pequeno Puerto Saavedra, topei uma biblioteca municipal e um velho poeta, Augusto Winter, que se admirava com a minha voracidade literária. «Já os leu?», inquiria, passando-me um novo Vargas Vila, um Ibsen, um Rocambole. Como uma avestruz, eu engolia tudo sem discriminações.

A MINHA EDUCAÇÃO ME PREJUDICOU - FRANZ KAFKA

 
Dormi, acordei, dormi, acordei, vida miserável. (...) 

Quando penso nisso, tenho de dizer que a minha educação me prejudicou muito em vários aspectos. 

Não fui, de facto, educado num lugar longe de tudo, como por exemplo entre ruínas, nas montanhas; contra esse fato eu não poderia realmente exprimir a minha censura. Apesar de correr o risco de não poder ser compreendido por todos os meus antigos professores, eu bem preferiria ter sido um habitante dessas pequenas ruínas, queimado pelo sol que por entre os destroços me apareceria de todos os lados sobre a tépida hera, mesmo que eu a princípio houvesse sido fraco sob a pressão das minhas boas qualidades, que com a força da erva teriam crescido dentro de mim.



Quando penso nisso, tenho de dizer que a minha educação me prejudicou muito em vários aspetos. Esta censura aplica-se a uma quantidade de pessoas, ou seja, aos meus pais, a algumas pessoas de família, a alguns amigos da casa, a vários escritores, a uma certa cozinheira, que durante todo um ano me levou à escola, a um monte de professores (que nas minhas recordações tenho de comprimir num grupo estreito, que doutra maneira me falha um aqui e outro ali — mas, com os comprimir de tal modo fortemente, toda a massa se esboroa e desfaz a pouco e pouco), a um inspetor escolar, a transeuntes vagarosos; em resumo, esta censura roda como um punhal pela sociedade e ninguém, repito, infelizmente ninguém tem a certeza de ver aparecer a ponta do punhal de repente na frente, atrás ou de lado. 

Não quero ouvir contradizer esta censura, porque já ouvi contradizer em demasia, e como me têm refutado na maior parte das réplicas, incluo estas na minha censura e declaro agora que a minha educação e esta réplica me prejudicaram muito em vários aspectos.

É PROIBIDO FALAR AO MOTORNEIRO - CHICO ANYSIO

 
Era muito grande a surpresa do velhote que, ao receber alta após vinte e dois anos acamado (reuma­tismo infeccioso), pela primeira vez saía à rua.

Andava pelo Rio como se estivesse fazendo turismo numa cidade a que nunca fora. Tudo mudado, tudo tão lindo e tão diferente. O aterro, os gramados em volta de postes que mais pareciam perna de ema (quando queimar uma luz como é que mudam?), o monumento ao soldado desconhecido, tudo era novidade. Trocaram a roupa da cidade durante sua enfer­midade.

Quis ir à Galeria Cruzeiro tomar um chope no Bar Nacional e lá encontrou uma cidade em pé, de mil andares, e se contentou com uma laranjada no Bob's. O Tabuleiro da Baiana, os bondes, por onde andavam? Estaria perdido? Poderia perder-se numa cidade que era sua apenas por ter ficado tão pouco tempo (vinte e dois anos) com aquele reumatismo idiota? A Rua das Marrecas tinha o nome de um po­lítico e havia um prédio encimando o Cine Metro onde ele assistira, quinze vezes seguidas, a Greer Garson em Rosa de esperança. E a Lapa, meu Deus! O que fizeram com a minha Lapa? Pelo menos a igreja está de pé, mas aquilo é novo, aquilo lá não existia, no meu tempo não tinha aquilo, roubaram os trilhos? O que fizeram dos trilhos?

O homem andava, na sua caminhada de reconhecimento, sem saber se devia aplaudir ou vaiar o progresso, já que em nome do progresso tudo tinha sido feito e modificado. Saí de casa a caminho da casa do amigo Vergara, com quem jogava xadrez nos tempos idos. De sua casa, na rua Taylor, até a casa do Vegara, na Santo Amaro, costumava ir de bonde (qualquer um servia, porque todos passavam no Largo do Machado), mas hoje estava disposto a ir a pé. Sabe lá se não acabaram também com a Praça Paris!

E o homem ia andando, sempre com o olhar circular pelos cantos da cidade. O passeio Público cercado. Se está cercado deixa de ser público!

Sem menos esperar, quase caiu num buraco.Dentro do buraco um homem, com um capacete prateado na cabeça, usava uma pá com a qual aumentava o buraco, jogando no asfalto a terra que dele tirava.

— Alô — disse o convalescente.

— Alô  resmungou, sem muita vontade, o trabalhador.

— O que é que o senhor está fazendo aí? perguntou o reumático ao homem que cavava.

— Cavando — disse o homem ao velho.

Vejam só. Além dos muitos buracos que há na cidade, em vez de fechá-los, o governo trata de abrir outros. Então era isso. Os buracos eram feitos com a concordância do governo. Ou talvez por determinação governamental.

— Fazendo um buraco, não é? — quis certificar-se o reumático.

— É, um buraco — precisou o cara de capacete metálico.

Exatamente o que ele pensara. Uma barbaridade. Onde estão as Forças Armadas, que permitem este descalabro? Tiram-se os bondes e dão-se buracos. Bela política, essa!

— E pra que fazer um buraco, moço?

— Progresso, né? — rezingou o homem que cavava e cavava, jogando terra, algumas vezes, sobre os sapatos do velho que o aborrecia, olhando-o do alto do buraco.

Que progresso mais idiota. Depois, aposto que nem põem placas avisando que ali há um buraco, vem uma criança.

— Feche este buraco — ordenou valendo-se do seu título de cidadão.

— Não chateia! — repeliu o operário.

— Este buraco é um perigo. É um atentado à segurança pública. Como cidadão, eu ordeno: jogue no buraco esta terra — completou, enquanto empur­rava com o pé número 35 um punhado de terra que se espalhou pelo metálico capacete do trabalhador.

— Pára de jogar terra aqui, cara. Este buraco é para as obras do metrô.

Foi como se falasse latim ao Lampião. Metrô? Não teria ele querido dizer Metro? Não seria a insta­lação de mais um cinema?

— Metrô — interrogou o velho que saía à rua após vinte e dois anos de leito. — Não será Metro?

— Metrô, cara. Um trem.

Era o que faltava. Botar um trem ali, em pleno Jardim da Glória. Bolas ao progresso, que tira os bondes, tão fresquinhos e baratos, e, no seu lugar, coloca vastíssimos trens, de ruído insuportável. Agora é que ninguém dorme, da Conde Lage até nem se sabe onde.

— Que trem é esse? — questionou o homem contra o progresso.

— Será possível? — sofreu o operário que cavava às duas da tarde, sob um sol de meio-dia (era janeiro).

— Diga. Que trem é esse? Na qualidade de cidadão, eu exijo uma explicação — insistiu, zangado, o homem.

— Olhe, meu amigo. Metrô é um trem que anda por baixo da terra. Faz-se um túnel debaixo do chão, botam-se os trilhos e o trem vai pelos trilhos — explanou o empregado das obras do metrô o melhor que pôde, para encerrar, de uma vez, o assunto.

— Por baixo da terra? E ninguém respira?

— Há ventiladores.

— E a gente entra no trem de que modo?

— Há entradas. Vai haver uma entrada ali (apontou longe), o senhor compra a passagem, desce as escadas, o trem vem, o senhor entra e vai.

— Muito bem. É o progresso, não é?

— É.

— E, sendo debaixo da terra, não suja a roupa, nem...?

— É um túnel! — irritou-se o operário. — O trem corre dentro do túnel.

— Maravilhoso — admitiu. — Maravilhoso!

— Agora dê licença — pediu o funcionário, voltando a jogar terra sobre o asfalto lá em cima.

Um trem por baixo da terra. O governo está trabalhando, mesmo. Estava até arrependido de ter pensado as coisas tão antigovernistas que pensara. Ainda bem que ninguém ouviu. Podia ser tomado como um sujeito anarquista.

— E quando fica pronto?

— Hein?

— Esse trem que o senhor falou. Demora para ficar pronto?

— Um pouco.

— Mais ou menos quanto tempo?

— Uns quatro anos.

— Ah, é muito, não posso esperar.

E dirigiu-se mesmo a pé para a casa do Vergara, na Rua Santo Amaro.

RECONCILIAÇÃO - GOETHE


A paixão traz a dor! — Quem é que acalma
Coração em angústia que sofreu perda tal?
As horas fugidias — para onde é que voaram?
O que há de mais belo em vão te coube em sorte!
Turbado está o espírito, o agir emaranhado;
O mundo sublime — como foge aos sentidos!

Mas eis, com asas de anjo, surge a música,
Entrelaça aos milhões os sons aos sons
Pra varar, lado a lado, a alma humana
E de todo a afogar em eterna beleza:
Marejado o olhar, na mais alta saudade
Sente o preço divino dos sons e o das lágrimas.

E assim aliviado, nota em breve o coração
Que vive ainda e pulsa e quer pulsar,
Pra ofertar-se de vontade própria e livre
De pura gratidão pela dádiva magnânima.
Sentiu-se então — oh! pudesse durar sempre!
A ventura dobrada da música e do amor.

SELHO BARÃO DE ITARARÉ - Conselho Médico

Como devemos tomar nossos remédios

Quando estamos doentes, afinal não temos outro remédio senão tomar remédio.

O remédio, aliás, sempre faz bem. Ou faz bem ao doente que o toma com muita fé; ou ao droguista que o fabrica com muito carinho; ou ao comerciante que o vende com um pequeno lucro de 300 por cento.

Mas apesar do bem que fazem, devemos convir que há remédios verdadeiramente repugnantes, que provocam engulhos e violentas reações de repulsa do estômago.

Como devemos tomar esses remédios repugnantes? Aí está o problema que procuraremos resolver para orientar os nossos dignos e anêmicos leitores.

O melhor meio de vencer as náuseas, quando temos que ingerir um remédio repelente, consiste em recorrer à lógica dos rodeios, adotando os métodos indiretos, até chegar à auto-sugestão, transformando assim o remédio repugnante numa coisa que seja agradável ao paladar. Numa palavra, devemos tomar o remédio com cerveja, por exemplo.

Como devemos proceder para chegarmos a esse magnífico resultado?

É indispensável comprar, antes do remédio, uma garrafa de cerveja. Depois, é necessário bebê-la devagar, saboreando-a, para sentir-lhe bem o gosto. Liquidada a primeira garrafa, pedimos outra cerveja. Esta   vamos tomá-la de outra forma, também devagar, mas com a idéia posta no remédio, cuja lembrança naturalmente nos provocará asco. Para voltarmos ao normal, encomendamos uma terceira garrafa, com a qual, lembrando-nos sempre do remédio, iremos dominando e vencendo a repugnância. Na altura da quinta ou undécima garrafa, nós já estaremos convencidos de que o gosto do remédio deve ser muito semelhante ao da cerveja e, assim, já poderíamos beber calmamente o remédio como cerveja. 

Mas, como não temos o remédio no momento e já não temos muita força nas pernas para ir à farmácia, então continuamos a beber a infusão de lúpulo e cevada, até chegarmos a esta notável conclusão: se é possível chegar a se tomar um remédio tão repugnante como cerveja, muito mais lógico será que passemos a tomar cerveja como remédio, porque a ordem dos fatores não altera o produto, quando está convenientemente engarrafado.

O FIM É LINDO - Fabrício Carpinejar

 
Minha casa é estranhamente regulada. Quando uma lâmpada queima, as outras vão junto. É um boicote que aumenta em minutos para testar a paciência. O gás da cozinha falta bem no momento da janta, e logo de madrugada, com o objetivo de me constranger ao telefone com uma lista infindável de entregadores. Se o computador estraga, o chuveiro também e o microondas sofre problemas de circuito. Confio que os aparelhos se imitam e conversam entre si. Devem reivindicar melhores condições de trabalho e uso, cobrar insalubridade, ou estão cansados das extensões e da sobrecarga indevidas. O certo é que minha casa é grevista. Insurgente. Nunca acontece de algo quebrar isoladamente.

Cheguei a minha residência depois de uma série de viagens. E mal acendi a luz, puf, puf, puf. Meu dedo estalou em cada interruptor. Teve até choque. Foi patético, para não dizer desanimador. Corredores mexendo as sombras, as paredes escorrendo a cegueira.

Mas, um pouco antes de explodirem, as lâmpadas aumentaram sua fosforescência. Puxaram todo o resto de força para refulgirem a extinção. Estenderam seus aros como nunca antes, com a potência de um refletor.

O mesmo ocorreu com o gás de cozinha, a chama das bocas subiu com perigosa curiosidade. Poderia ouvir o fogo gemer. Ele escurecia as bordas das panelas com sua assinatura. Quase formava os dedos de uma mão.

Conclui que o fim é lindo.

Assim como as luzes da casa e do fogão, o amor perto do desastre não se economiza. Não mais se contém. É desesperadamente transparente.

Um casal diante do fim terá a grande noite de sua vida por não prever uma próxima. Sairá do esconderijo porque não se vê mais seguro. Mostrará do que é capaz. Queimará o que guardou, não fará mais nenhum jogo, esquecerá a sedução e os conselhos dos amigos. Mais intensidade do que intenção.

É o escândalo da verdade. Tímidos se transformam em terroristas, calmos ficam enervados, pacientes se portam como histéricos. Por um instante, não há medo de fazer as propostas mais desvairadas, confessar palavras reprimidas, estender os olhos como um lençol limpo.



O fim é lindo. Do crepúsculo, de uma vela, de uma chuva. O fim é esperançoso, exigente. Pancadas de beleza. O som e o sol pulam como um suicida ao avesso para dentro da vida.

MORAL DA HISTÓRIA - Luiz Felipe Pondé

No Brasil, muitos juízes acham 
que devem fazer 
(in)justiça social com as próprias mãos

Hoje vou contar uns casos para você. Aproximam-se o Natal e o Ano-Novo, e sempre pensamos o que poderia ser diferente no Brasil. Eu, diferentemente daqueles que creem em modas como "consciência política" (para mim isso é uma coisa tão real quanto carma), espero que um dia o Brasil se livre de sua inhaca de ser um país no qual quem dá emprego é visto como bandido. Porque, ao contrário do que diz a moçada da "justiça social" (carma...), quem dá emprego é quem faz verdadeira justiça social.

Imaginem uma jovem empresária cheia de vida e fé no seu negócio. Isso aconteceu alguns anos atrás, hoje ela se transformou numa cética com relação ao valor da atividade do pequeno e médio empresário brasileiro, porque acha que só ingênuo e mal informado dá emprego no Brasil.

Um dia sua loja de produtos finos foi assaltada em plena luz do dia. Ela e sua sócia tiveram suas vidas ameaçadas. Vários talões de cheques da empresa roubados do cofre. Não tinha muito dinheiro em "cash", por sorte.

Na sequência, se inicia a via crúcis para cancelar os talões e fazer o BO. Horas em delegacias com funcionários que complicavam as coisas com clara intenção de, quem sabe, garantir um "extra".

Alguns dias depois, a dona de um pequeno restaurante fora de São Paulo liga para elas dizendo que um grupo grande de homens havia passado um cheque de sua empresa como pagamento de uma festa que eles tinham dado no restaurante dela. Nossa jovem empresária, prontamente, informa à mulher que a loja tinha sido assaltada, que esses talões estavam cancelados e que tinha a documentação necessária para comprovar o relato, e, portanto, sentia muito, mas o cheque não tinha qualquer valor.

Claro que a dona do pequeno restaurante não quis saber e "pôs elas no pau". Foram obrigadas a depositar em juízo. Quando da audiência, após apresentar toda a documentação, o juiz decidiu que sim, elas deveriam pagar o cheque.

Quando questionado em sua decisão (já que elas tinham sido vítimas de um assalto!), o juiz as ameaçou dizendo que, caso não aceitassem a decisão, o processo se alongaria e sairia mais caro para elas. Ao ser indagado acerca da injustiça que ele cometia ao obrigá-las a pagar por um gasto que não fizeram, o juiz soltou a pérola de costume: "As senhoras são ricas, podem pagar por isso".

Eis o juiz fazendo caridade com a grana alheia. Comunista gosta de distribuir o dinheiro dos outros. No Brasil, muitos juízes acham que devem fazer (in)justiça social com as próprias mãos.

Moral da história: as empresárias foram roubadas duas vezes, uma pelos ladrões, outra pelo Estado.

Outro caso. Funcionário rouba o patrão. Ele demite o funcionário por justa causa. Abre processo na Justiça comum contra o funcionário. O juiz do trabalho decide que o patrão deve pagar "todos os direitos trabalhistas" do funcionário sob alegação de que uma coisa é roubar, outra é ser demitido. Risadas? Claro, o juiz do trabalho argumentou que as duas Justiças "não se comunicam" e que os direitos trabalhistas são inquestionáveis.

A questão é: afinal, roubar não seria causa suficiente para você demitir alguém? O problema é que cá nestas terras demitir é crime. O Brasil é mesmo o fim da picada.

Moral da história: o empresário foi roubado duas vezes, uma pelo funcionário ladrão, outra pelo Estado.

Mais um. Jovem empresário de uma cidade em outro Estado faz uma reforma na fachada de sua loja. Fica muito bonita. Dias depois, roubam quase tudo dessa fachada.

No Brasil, tudo é roubável. A fachada fica destruída. Passados poucos dias, aparece aquele cara chamado "fiscal da prefeitura". O "amigo" avisa ao empresário que vai lhe passar uma bela multa, a não ser que ele seja razoável. O jovem empresário, munido da fé comum daqueles que creem que escândalos com fiscais é coisa rara, argumenta e apresenta documentação provando a destruição criminosa e o roubo. Não adianta, o "representante do bem público", leia-se, o fiscal, lhe apresenta uma multa enorme.

Moral da história: o jovem empresário foi roubado duas vezes, uma pelo ladrão, outra pelo Estado.

PATRULHAS SEXUAIS - Nelson Motta

Em alguns estados mais puritanos chegam a expor em outdoors
 os nomes e fotos imensas de homens, a maioria casados, 
que foram flagrados com prostitutas

A nova lei é dura e as multas são pesadas. Cerca de 70% da população desaprovam, mas a Assembleia Nacional decidiu que trocar sexo por dinheiro vai ser ilegal na França e o Estado vai punir o que as mulheres e os homens fazem com seu corpo. Como o flagrante tem que ser com o ato consumado, e pago, agora falta uma Polícia Sexual.

As feministas se dividiram entre a liberdade e a dignidade: umas acreditam que as mulheres só se prostituem à força, que são escravas sexuais exploradas e degradadas por traficantes de pessoas, o que é verdade, mas não para todas; outras fazem por livre vontade, porque gostam, e se consideram benfeitoras dos homens, e mulheres, por lhes vender prazer e felicidade, o que também é verdade desde que o mundo é mundo.

Mas não é novidade. Nos Estados Unidos, à exceção do estado de Nevada, onde fica Las Vegas, a prostituição é criminalizada em todo o país, com multas e cadeia para quem compra ou vende sexo. Na repressão, usam até policiais gatonas que se fingem de prostitutas para abordar um cidadão na rua e lhe oferecer um programa, e assim que ele aceita, lhe exibem a carteira da policia e dão voz de prisão. Sim, a cilada moral é vista como uma ação legal pela Justiça, mas o resultado não é o aumento da proteção às mulheres, mas do índice nacional de hipocrisia.

Em alguns estados mais puritanos chegam a expor em outdoors os nomes e fotos imensas de homens, a maioria casados, que foram flagrados com prostitutas. Enquanto isso, milhares de sites oferecem mulheres, homens e transexuais para qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer preço, e profissionais ironizam a concorrência de amadoras, que trocam sexo por viagens, carros e joias ou por casa, comida e cartão de crédito, ou um emprego público. Seja no varejo ou no atacado, julgamentos são inúteis: cada um dá o que tem.

Além das piadas e da inviabilidade de sua aplicação, tornar ilegal a prostituição na França é um atentado contra o imaginário coletivo nacional. O que seria da cultura francesa sem os dramas e comédias, as óperas e os romances, os filmes, peças e quadros que elas inspiraram?

A RAZÃO DE SER - Paulo Leminski


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

O CEMITÉRIO DE ESTRELAS - Arnaldo Jabor

Hollywood é um luminoso cemitério de estrelas. 
É um cemitério de beijos e olhos e corpos 
embalsamados no tempo da película

Meu Deus, que saudade do cinema! Que saudade do sonho, da utopia fílmica dos anos 1950 e 60, sacralizada pela “Cahiers du Cinéma” e pelos círculos de fumaça dos Gitanes sem filtro. Atualmente, a cinefilia soa como um vício sexual. Hoje o cinema é nu. Está exposto nas lojas, feiras e bancas de jornais, na ponta dos dedos dos insones, está rodando bolsinha nas ruas. Tenho saudades da sala escura, do cinema segredo, o cinema dos pobres tímidos, punheta dos rapazes feios, o cinema como realidade alternativa. Como era bom esperar um filme do Fellini, a cada ano, e o novo Antonioni, e o novo Godard... 

Não chego a ser um cinéfilo puro. Faltam-me o gosto arquivista, o amor às fichas técnicas remotas, o mundo das fofocas de Hollywood.

Cinéfilo era o Manuel Puig. Li, outro dia, que Puig estava morrendo em Cuernavaca. Uma de suas “filhas”, Yasmin (uma bicha “filha” dele com o Ali Khan, pois Puig se imaginava a Rita Hayworth), chorava à beira do leito achando que Puig já entrara em coma. Mas, na esperança, testou os sinais vitais de sua “mãe”. Falou-lhe: “Mãe..., ontem eu vi ‘Stella Dallas’, do King Vidor. Chorei tanto...”. A “mãe” Puig balbuciou do leito: “É... a Barbara Stanwick está bem, mas o John Boles nunca me emocionou...”. Yasmim, a bicha cinéfila, caiu em prantos de felicidade: “Mamãe está viva!”.

O cinema era a “síntese das artes”. E todo mundo pensava: “Qual é a alma do cinema? O que é o cinema?”.

Sempre que me perguntam isso, eu me lembro de Humberto Mauro, que conheci já velhinho.

Para Humberto Mauro, o célebre cineasta-fundador dos anos 1920/30, “cinema é cachoeira”. Por quê? Vou contar aqui de novo. Quando ele fazia seus filmes na Cinédia do Rio, todo amigo que ele encontrava na rua dizia: “Humberto, você precisa é ir no meu sítio lá em Correias filmar a cachoeira que tem lá! Você precisa ver que cachoeira!”. E o Humberto Mauro ficava com aquilo na cabeça: “Por que querem que eu filme cachoeiras?”.

Um dia, ele estava dando uma palestra para uns cinéfilos de um cineclube do interior quando, já na estação, atrasado para pegar o trem, um garoto agarrou-o pelo paletó e perguntou-lhe sobre o grande enigma: “Seu Mauro, afinal de contas, o que é a ‘alma’ do cinema?”. E o velho Mauro, correndo atrás do vagão que partia, deu a grande definição: “Cinema, meu filho, é cachoeira!”.

Hoje, ninguém pergunta mais isso. Tantas são as formas de reprodução da imagem, tanta é a virtualização da realidade, que talvez a pergunta devesse ser feita por alguém na tela, algum fantasma projetado na tela nos perguntando, invertidamente:
“Ei, você aí!... O que é a realidade?”.

Hoje, vemos que a “máquina do mundo”, quanto mais aberta é, mais vazia e misteriosa. A fome de decifrá-la, digitalizá-la, matematizá-la, descreve-a, mas não a condensa. Por isso, a ideia de cachoeira é a metáfora melhor de cinema. Esta imagem “heraclitiana” de uma água que não para de fluir é ótima para definir nossa ex-sétima arte. Por isso, os amigos de H. Mauro, na sua sabedoria para o óbvio, diziam no botequim: “Vai filmar minha cachoeira!”. Só o movimento tem de ser filmado. Só as cachoeiras da vida têm de ser retratadas na busca de alguma verdade. Não há uma realidade que finalmente pare e se configure. Buscá-la, tanto na arte quanto na política, é fracasso certo.

Esse foi o aprendizado do século XX. Tentou capturar o vasto e incessante universo em fórmulas que o esgotassem e nada ficou preso. Por mais que queiramos que o cinema seja a arte de captar a vida, o cinema é a arte da morte.

Henri Bergson, ao ver o “cinematógrafo” pela primeira vez em Paris, deu a grande definição: “O cinema é importante, para que se veja e se saiba no futuro a maneira como os antigos se moviam”. É isso aí. Cinema é o que se passa dentro do plano, a ação entre as pessoas e as coisas, para além do que contam os roteiros. Há uma “fisicalidade” no cinema em que as coisas brilham antes do enredo. Há uma superficialidade “profunda” no cinema básico que os grandes mestres sacaram.

Sem bodes, irmãos, mas vejam como Hollywood é um luminoso cemitério de estrelas. É um cemitério de beijos e olhos e corpos embalsamados no tempo da película. Vejam como Fred Astaire dança no ar do nada, vejam como James Dean já prefigurava a morte na própria interpretação de sua melancolia. Como dói se apaixonar por uma morta, como eu, que me apaixonei por Brigitte Helm em “Metropolis” e amei as pernas perfeitas de Louise Brooks, numa necrofilia de sala escura. Mesmo num musical, o cinema filma a morte; mesmo no filme de ação, quando todos tentamos burlá-la numa ginga, num drible, ela não deixa. Como é estranho que Gene Kelly tenha morrido, aquele anjo de juventude, como pôde Kirk Douglas ter um derrame e gaguejar na festa do Oscar, como pôde o nosso Super-Homem morrer na cadeira de rodas?

O trágico do cinema é sua maior verdade. A pintura e outras artes tentam exorcizar a morte, todas as artes fazem isso. Mas, nelas, ninguém se mexe. A barra é mais leve. No cinema não tem perdão. Ligou a câmera, lá está a velha morte nos olhando. Assim, não há ideologia ou política ou arte ou filme ou literatura que dê conta do implacável fluir desta cachoeira. Toda a tragédia dos séculos tem sido a tentativa de se trancar o movente em fórmula fechada, em alcançar um céu estático, definitivo, um dia em que tudo se resolva. O paraíso seria um lugar imóvel, onde não houvesse a morte e, portanto, nem cinema.

Não há “cinema paradiso” (talvez por isso o filme seja tão ruim).
Hoje estamos todos na saudade deste passado. Queremos voltar, principalmente intelectuais e outros religiosos, a esse tempo em que a morte seria dominada pela técnica, em que o paraíso fosse planejável. Não há isto.

Somos uma cachoeira olhando a outra e todas nossas ações no mundo têm este fracasso fundamental: por mais que olhemos no fundo das coisas, jamais veremos um fim ou um início. A galáxia e o ovo, todos estamos num fluir sem rumo. Por isso, a cachoeira é a melhor definição de cinema, ou da vida.

QUE MÃE? - Francisco Daudt

Tendo sido importante, a memória dela se conecta 
com praticamente todas as vivências do filho

Aparecem notícias de que um cientista russo foi queimando neurônio por neurônio no cérebro de um paciente que queria se livrar das memórias de sua mãe que o atormentavam. Finalmente, bingo, o paciente nem sabia mais que havia tido mãe! O cientista queimara o "neurônio-chave" da lembrança de mãe.

Todo o meu prezado ceticismo veio à tona ao ler essa notícia. Um neurônio para mãe?

Mas... Que mãe? Sua mãe da infância, da adolescência ou a atual? A que o atormentou e a que o encantou? A que ele comparava com inveja com a mãe de seus colegas? A que o levava ao colégio ou a que o esquecia lá? A que usava Joy do Jean Patou nos anos 50 e passou para Diorissimo, nos 60? A que pedia que ele a ajudasse a abotoar a cinta? A que o espancava com o cinto? A que o seduzia e depois o abandonava? A chantagista emocional? A mãe idealizada que convive em todos nós? O ódio dela que ele cultivou por anos? Os mil ressentimentos entrelaçados em suas relações com as mulheres e com a vida?

O próprio conceito de mãe, maternidade, instinto materno, vocação maternal, matriz, a mãe gentil dos filhos deste solo, língua-mãe, "mater ecclesiae", Santa Maria, mãe de Deus, "alma mater", matriarcado, o indissociável conceito de filho, filial/matriz, mamãe, mamãe, o avental todo sujo de ovo, o churrasquinho de mãe, do Teixeirinha ("O maior golpe do mundo que eu tive na minha vida foi quando, com 12 anos, perdi minha mãe querida" -veja no YouTube, se você não conhece), "Minha nossa (senhora)!", mãe em outras línguas, "motherfucker", mãe das águas Iemanjá, "É a mãe, seu...!", matricídio?

Uma coisa é certa: essa mãe foi de uma importância enorme na vida do sujeito/objeto dessa experiência, senão ele nem iria pensar nela -quanto mais se sujeitar a um procedimento tão arriscado. Tendo sido importante, sua memória se conecta com praticamente todas as vivências que ele teve, através de vários graus de separação (diz-se que estamos ligados a quase todas as pessoas do planeta por até seis graus de separação: minha mãe conheceu Hitler em Berlim, na Olimpíada de 1936, logo, estou ligado a ele por dois graus, e por aí vai).

Se assim é com pessoas, que dirá com memórias. Uma puxa a outra porque se vinculam pelas conexões neuronais, numa rede gigantesca.

Freud dizia que se poderia reconstituir a vida inteira de uma pessoa a partir de um único sonho. Ele vislumbrou o que era a rede neuronal e a complexidade que ela tem, muito antes da neurociência e das ressonâncias magnéticas funcionais.

Eis porque não acredito na experiência do russo. A menos que ele esteja a reproduzir o feito que deu ao português Egas Moniz, em 1949, o primeiro prêmio Nobel que seu país recebeu: a invenção da lobotomia como método de tratar violentos incuráveis (e transformá-los em vegetais ambulantes). Seria a única maneira de erradicar a memória de mãe numa pessoa para quem ela fez diferença (para o bem ou para o mal, não importa).

Um caso típico de, como no antigo ditado, "jogar fora o bebê junto com a água do banho".

DAR É UM VERBO BONITO - Ivan Martins

Ele revela um bocado sobre 
o jeito brasileiro de ver o sexo

Eu teria uns seis anos de idade quando tive contato, pela primeira vez, com o significado misterioso do verbo “dar”. A casa cheia, escuto uma discussão em voz alta na sala e me aproximo. Uma das moças afirma, em tom de desafio: “Dou para ele, sim, e você não tem nada a ver com isso”! A mãe grita escandalizada, o pai manda que a filha cale a boca. No breve silêncio que se segue, eu pergunto a todos e a ninguém: “O que ela deu que está todo mundo bravo?” Grande erro. Os adultos se voltam para mim com ar de fúria e berram para que eu saia dali. Cai a cortina.

Nem gosto de pensar quão velha é essa cena, mas, desde então, ficou claro para mim que “dar” não era um verbo corriqueiro. Havia nele um significado latente, carregado de censura e de silêncio, que o tornava irresistível. Mesmo hoje, tanto tempo depois, quando a compreensão e o uso banalizaram o sentido erótico de “dar”, a palavra ainda me parece fascinante. Há tantas maneiras de falar do ato sexual quanto são as línguas humanas, mas eu sinto que nós achamos um verbo bonito para tratar do assunto.

Pensem comigo: dar indica um ato autônomo de vontade. Quem dá não é roubado, quem dá não é forçado, que dá escolhe dar. Oferece ou atende a um pedido. A mim parece bonito que numa sociedade machista e historicamente repressora como a nossa tenhamos escolhido este verbo delicado para explicar o que faz a mulher que consente no sexo. Ela dá - como se desse um presente, um beijo ou um conselho. Entrega algo que é dela. Entrega-se. Há despojamento nesse verbo, doação. Quem dá, afinal, não vende nem troca. Transfere ou partilha graciosamente. Como um gesto de amor ou de luxúria, mas essencialmente dadivoso.

Não quero esticar demais o argumento, mas me parece que, neste caso, existe uma conexão entre o que se fala e o que se faz.
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Há na cultura feminina brasileira uma doçura que se reflete no sexo, assim como na palavra que se usa para descrevê-lo. Outras culturas são mais encanadas, problematizam, complicam. Ao final, dificultam. Na nossa ainda é simples. As mulheres dão por paixão, ou por tesão, até por pena. Dão por interesse também, claro. Mas, em qualquer circunstância, o fazem com um grau de entrega que não se acha facilmente por aí. É um fenômeno emocional e cultural, não uma habilidade física. A moça se põe de joelhos para agradar o parceiro porque isso a faz feliz – sem culpa, sem ressentimento, talvez com alguma vergonha, que logo passa.

Sempre que penso nessas coisas, lembro da história que um amigo me contou.

O americano que morou uma década no Brasil volta à cidade dele com a linda mulher brasileira. Quando ela aparece na piscina do clube é um escândalo, pelas curvas e pelo biquíni minimalista. Superado o choque mútuo, num dia de churrasco os amigos dele, meio altos, se atrevem a perguntar se, afinal, as brasileiras são na cama isso tudo que dizem. O gringo abrasileirado respira fundo e responde: “Depois de transar com uma brasileira, vocês vão querer atirar pedras nas mulheres de vocês”.

É claro que há nessa história um bocado de ironia, mas quanto?

Para escrever esta coluna, andei conversando com amigas estrangeiras que vivem ou viveram no Brasil, tentando comparar os diferentes verbos que se usam para o sexo. Não há nada parecido com esse “dar” brasileiro em italiano, francês ou inglês. Em espanhol tampouco. Mais do que isso, não há a mesma mentalidade. Uma das moças com quem eu conversei, já de volta ao país dela, me contou que o verbo “dar” a incomodava. Achava pejorativo. Se eu entendi bem, ela sentia que a palavra transferia toda a responsabilidade do sexo para a mulher. Ela preferia “transar”, que lhe parecia uma expressão mais igualitária. Tipo assim: eu não dou, a gente transa. Faz sentido, mas ela mesma acha que isso “é coisa de francesa”. Talvez seja.

Da minha parte, acho que as palavras raramente são acidentais. Sobretudo em áreas essenciais da experiência humana. De alguma forma, elas traduzem o que as pessoas sentem – ou, pelo uso, nos fazem sentir as coisas de certa maneira. No longo prazo, dá na mesma. Por isso eu gosto do verbo “dar”. Acho que ele reflete a generosidade e a simplicidade de certos sentimentos como eles são vividos no Brasil. É um verbo feminista, ademais. Ele dá poder às mulheres. Coloca-as como sujeito do sexo. Elas não são catadas, derrubadas ou pegas passivamente. Os homens “comem” (vejam que verbozinho egoísta...), mas apenas o que as mulheres lhe dão. Tem poder nisso aí, além de alguma rude poesia.

GUGU DADÁ - Fábio Porchat

Sabe quando uma criança fica enchendo o saco do pai porque quer porque quer mexer no celular dele, e o pai pega um celular velho e quebrado, dá pro filho e fala: toma, pode brincar? Daí o filho se fecha em seu mundo brincando com o aparelho estragado, mas crente que está falando com o mundo todo? Isso é exatamente o que eu penso que é a tal famigerada Comissão de Direitos Humanos e Minorias presidida pelo deputado, barra pastor, barra polêmico, barra (preencha a lacuna com o que quiser) Marco Feliciano.

Já reparou que tudo o que foi aprovado e decidido por essa importantíssima comissão nunca deu em nada na prática? Não foi adiante e nem gerou nada, além de barulho na mídia. Nunca nem tramitou na Câmara nada do que eles decidiram. Tudo aquilo que foi posto em discussão por eles parou um metro e meio depois.

Eles só se apegam a assuntos de interesses próprios. E têm uma fixação com gays. Meu Deus, tudo são os gays. Eles não podem casar, eles não podem entrar em cultos, eles não podem se beijar, eles não podem, eles não podem, eles não podem... Nunca é uma decisão que os gays possam alguma coisa. É sempre proibindo. Curioso uma comissão que cuida dos direitos humanos ficar impedindo pessoas de serem livres.

Eu acho que, na real, ninguém leva muito a sério o que esse pessoal do CDHM fala, sabia? Eles são meio café com leite, tadinhos... É como se quem tá na Câmara e no Senado fosse os adultos recebendo os amigos em casa e os membros da comissão fossem as crianças brincando no quarto. Fazem barulho, se divertem, convivem no seu próprio mundo de fantasia, mas não representam nada de muito relevante pra ninguém, a não ser entre eles mesmos.

E repare que, como as crianças, eles acreditam de verdade naquilo que estão fazendo. Se dão muita importância, acham que estão vivendo a vida, quando na verdade estão só passando o tempo. A população não dá a mínima pra eles, o governo não dá a mínima pra eles, mas, afinal, quem dá alguma coisa por eles? Eles estão lá, claramente, para ocupar algum buraco.

Pensando nisso, eu sugiro a criação de mais comissões. Comissões para encostarmos uns Sarneys e Malufs da vida. Que tal? Comissão das Decisões Éticas e Corretas, presidida por Anthony Garotinho. Comissão da Importância da População para o Desenvolvimento do Estado, presidida por Roseana Sarney. Comissão da Tolerância e do Respeito, presidida pelo Bolsonaro. Aí fica toda essa corja num canto brincando de achar que decidem alguma coisa, enquanto aquela meia dúzia que presta toma as decisões de verdade.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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